terça-feira, 12 de abril de 2016

Caça-sonhos

Não sou capaz, não sou capaz de descodificar tamanho silêncio, tamanho vazio que agora ocupa a minha mente.
Fala-se tão bem em preencher, preenchemo-nos, construímos o nosso "eu" cheio de amor-próprio. Fala-se constantemente em desapego, em liberdade, mas a única coisa que somos capazes de fazer é deixarmo-nos prender por tudo e por nada, porque sim e porque não.
Inconscientemente assento com uma realidade que não era a minha e isso assusta. Como se construissemos a nossa casa a vida inteira e no fim acabamos por ir viver noutro lugar.
Pensei que não aguentaria tamanha flecha, depois de ter sido o alvo tantas vezes, pensei que a picada de um mosquito me matasse por estar tão frágil, tão sem defesas. Mas não. Enganei-me.
Transformei o mosquito num mocho e usei a sua sabedoria, segurei a flecha e protegi-me, entrei na casa que construí e usei-a como um forte. Não fiquei livre, não fiquei preenchida e o silêncio não se calou, mas não desisti de mim.
Sim, eu, existe um "eu" num monte de "eles, os outros, as pessoas". E esse "eu", por mais desorientado que possa ficar, encontra o seu norte, o amor-próprio, e descordena-se por entre coordenadas de pessoas que vão, vêm, não ficam e não saem do sítio.
Há quem acredite que ficar é uma escolha simples, mas para quê ficar se a intenção é passageira.
Seguimos uma vida de marasmo, de elevada agitação, de desilusões, de maus caminhos, mas seguimos.
E andando pé por pé, começamos a entender que ervas daninhas são ervas daninhas e que tulipas são tulipas, que choramos de tanto rir e rimo para não chorar.
Parei, olhei o caça-sonhos e não percebo se ele caçou os meus sonhos bons ou os maus, se ele também se cansa, de sentir sonhos impossíveis, se se entristece com sonhos de amor e se se assusta com pesadelos.
Deixemos o que não podemos alcançar fora.de alcance e alcancemos todos os dias a nossa paz interior.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Ironia

Irónico não é?
Como passamos a vida a tentar ser adultos, independentes, donos e responsáveis por nós e depois aparece outro ser humano, que até então nem na nossa vida existia e rouba-nos todas as coisas que queríamos tanto ter. Passamos a ser de alguém, mesmo que não estejamos com essa pessoa, somos dela. Sentimos o coração fora do corpo, a alma cheia do seu perfume e perdemos os sentidos, ou seja, quanto de nós ainda temos?
Somos adultos, mas somos arrasados como se fossemos adolescentes. Agora sentimos tudo a sério e sentimo-nos ainda mais idiotas porque já não temos desculpa para chorar, temos é obrigações para cumprir, tarefas, coisas de adultos para fazer

terça-feira, 28 de abril de 2015

From me to you

Sei que há muito que te deixei, parece que te guardei numa caixinha de madeira lá no fundo da estante empilhada de livros que nunca foram lidos por mim. Na verdade a única coisa que eu sempre quis ler foi a tua mente, mas ela encontra-se mais indecifrável que um livro todo escrito em latim.
Sei que pensas que os meus olhos já não te olham da mesma forma, na verdade eles já nem olham, porque encontrar o teu olhar no meu é o mesmo que o rebentar das ondas na areia, aquela explosão, sabes do que falo? Certamente não sabes, não compreendes, não sentes. Mas aquela caixinha de madeira está vazia de ti tal como a minha cama, a minha roupa, a minha pele.
Chamam -nos loucos por amar, mas não seremos ainda mais loucos sem o amor?
O teu respirar, o teu toque nas minhas costas, nos meus braços no meu cabelo, o teu perfume que se entranhou nos lençóis, no meu pijama, aquele dos ursinhos e na minha alma, sim aquela alma que agora está vazia e solta, que voa como um nada.
Será que ainda a tenho?
Sabes, dizem que só damos valor quando perdemos e eu perdi-te, perdi-te nos olhares, nas mãos dadas, nas risadas, nos momentos mais pequeninos do dia-a-dia que agora me fazem chorar por se terem tornados os gigantes momentos que eu não tenho mais.
Dei-te valor, ainda dou. Não digo que estarei aqui para sempre porque dor de alma cansa, assusta e dói. E se me queres tão bem quanto eu te quero, sabes que temos que ir embora, para sempre.
Como dizem, "agarra ou larga". Eu quero que me agarres em ti ou me largues nos teus braços.
Não te peço o mundo, peço-te que sejas o meu mundo, que sejas tu e que eu seja eu. 
Porque hoje já não sou eu, sou uma sombra de ti que não soube desaparecer quando a luz se apagou e o meu coração ficou as escuras


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

ways

Dizem que a vida é feita de escolhas, e que dependendo da nossa escolha é-nos atribuído um caminho. Se o caminho é mau, daqueles cheios de buracos e em terra batida culpamos quem fez a escolha, geralmente nós. Se o caminho é bom, bem, se isso acontece nunca nos apercebemos, porque estamos demasiado ocupados a encontrar falhas, ás vezes até procuramos por elas tão profundamente que acabamos por ficar um pouco perdidos.
Eu sei que é o nosso caminho, a nossa vida, mas quantas vezes não paramos para pensar em quão perdidos estamos. E no meio do nada, desesperadamente, gritamos por alguém, que nos diga: “é por aqui”, que nos segure a mão e nos advirta “não devias ter vindo sozinha”.
Mas tudo o que precisamos muitas vezes, é de seguir sozinhos, por aí, seja o caminho curto ou longo, fácil ou difícil. É daquilo que precisamos, de nos perder tanto ao ponto de encontrarmos alguém que já não somos nós, nem que fomos, precisamos encontrar alguém que se encaixe em nós e se torne no que queremos ser. Porque o querer é o caminho quase feito, as coisas simplesmente acontecem.

E de qualquer maneira, apesar de perdidos, achados, confusos, sozinhos ou acompanhados, iremos ter sempre que andar, porque parar é morrer, já dizem, e nós, bem, nós queremos viver com muitos ou poucos percalços, a vida não pára, o mundo não deixa de girar e os caminhos precisam de ser escolhidos!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

stay

Deixei-te a porta aberta, como sempre o fiz.
Na verdade, desde que te conheci, a porta nunca mais fechou.
Saíram pessoas, entraste tu e fizemos o que entendemos quanto ao que queríamos no momento. Sabias que estivesses do lado de dentro ou de fora, a porta continuaria intacta, só a ver-te passar  por ela, deixando um rasto perfumado ao entrar e um rasto de mágoa e saudade ao sair.
A minha vontade, era muitas vezes de a fechar, entrava corrente de ar, não era seguro, saíam pessoas e não havia ordem. Era um entra e sai muito confuso que se juntava já á minha insegurança.
Quando entraste pela primeira vez, eu não queria fechar a porta, achei que não precisava, enganei-me e fui-me enganando, não queria prender-te, mas quando ias embora, quando passavas pela porta cheio de fúria, eu ia atrás de ti, encostava-me a ela, via-te partir e com o coração despedaçado implorava para ela fechar de vez.
E isso nunca aconteceu.
Era insuportável em mim, a ideia de fazer frio em ti e eu não estar lá para aquecer o teu interior. O meu consciente zangado e o meu orgulho ferido não te queriam mais, mas o meu inconsciente nunca te deixou ir, nunca te deixou sozinho apesar da solidão que sentia, do frio que fazia em mim, chegando mesmo a nevar. E já não havendo lágrimas, que foram geladas naquele inverno de sentimentos, a porta ficou aberta para ti, para voltares aos meus braços, para eu te segurar entre os meus dedos, acariciar o teu rosto e quem sabe, aquecer o teu coração.

E assim a porta fecharia, deixando-te no lado a que pertences